Quando eu vivia na Islândia, gostava de chamar a esta ilha maravilhosa no meio do Atlântico “ísklakinn“, como fazem os seus habitantes, que signifca “o pedaço de gelo”. Gelolândia! Os ingleses que eu conhecia perguntavam-me às vezes: “Are you back on THE ROCK”? “Voltaste à ROCA?”, que também é outra “alcunha” da Islândia.
Agora vivo no “mesmo lugar”: na roca. Porém, trata-se de uma roca mais favorável para viver, mais quente e também relativamente isolada. Eu gosto de viver isolado, fazer caminhadas longas no litoral, ver precipícios, o Oceano Atlântico. Os corvos marinhos parecem ser da mesma espécie de pássaro que via na Islândia. A roca chama-se “Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina”. Tem bom clima, fáceis acessos e sensação de paz.
Eu ando em dois trilhos cómodos, que estão bem assinalados: o Trilho dos Pescadores e o Trilho Histórico. Eu chamo a esses trilhos o “Trilho dos ucranianos” e o “Trilho dos polacos”, por causa da similaridade das cores das bandeiras nacionais. A minha esposa, por outro lado, diz que eu estou errado: as cores do Trilho dos Pescadores, para ela, são verde e azul, e não laranja e azul. Tanto faz, eu sempre fui um grande adepto do daltonismo. Maz não de surfismo.
Eu gosto sempre de dizer que o oceano é uma coisa séria para os islandeses. Não para nadar, brincar e fazer surf, mas para apanhar bacalhau, que sempre constituiu uma grande parte da exportação nacional. A Islândia tem um museu de bacalhau em Grindavík. Portugal tem outro museu de bacalhau em Íhavo. Uma harmonia perfeita!
Mas não foi sempre assim. No ano de 1615, uma tempestada forçou 80 marinheiros bascos que pescavam baleia no noroeste da Islândia procuraram abrigo na terra. O Governador de Vestfirðir, distrito da Islândia, emitiu imediatamente uma lei que permitiu aos islandeses matar os espanhóis impunemente. Uma coisa que o povo sempre adora fazer é matar e roubar estrangeiros com autorização do governo! É uma actividade patriótica e pouco perigosa. Durante as Guerras Napoleónicas, os habitantes da cidadezinha inglesa de Hartlepool enforcaram um macaco fugido de um navio francês como espião gaulês ou “agente estrangeiro”, conforme o termo aplicado na Rússia.
Eles nunca tinham visto um francêse e o pobre diabo do macaco não falava sequer uma única palavra de inglês, que absolutamente confirmou as suspeitas deles. “Who hung the monkey?» é uma canção com que os vizinhos da cidadezinha de Hartlepool gostam de provocar os hartlepoolenses com: quem enforcou o macaco? E como pode o povo ser tão estúpido para não saber a diferença entre franceses e macacos?
Os islandeses sabiam a diferença entre bascos e eles próprios. São um povo menos complicado do que os ingleses. Não precisaram um julgamento ou um juiz para matar os bascos: mataram simplesmente 31 deles! Outros fugiram num navio inglês que tinham roubado! A lei que permitia matar bascos foi, finalmente, revogada no dia 22 de Abril do ano corrente!
Agora é seguro para os bascos visitar a Islândia! E os aperfeiçoamentos dos fatos de mergulho permitem aos islandeses começar a praticar surf. O “Guardian” e “Huffington Post” promovem a Islândia como a última fronteira do surf, um paraíso de surf ártico. No verão passado, encontrei duas jovems da impresa islandesa Arctic Surfers ao lado da queda de água Gullfoss. Elas aprenderam surf perto de mim – na Costa Vicentina. Os vikings também surfam!
A Islândia tem aproximadamente 25 surfistas (compare com os 500 000 surfistas no Reino Unido!), 330 mil habitantes, mas recebe perto de 1 milhão de turistasas por ano! Tenho a certeza de que o facto de a lei que permitia matar espanhóis ter sido revogada ajuda ao aumento do turismo na Islândia.